• Aprendemos a comunicar
  • Além de benefícios, a energia elétrica trouxe limitações e consequências
  • 21 de setembro de 2015
  • Em 1994, um terremoto de magnitude 6.7 causou um imenso apagão em Los Angeles, nos Estados Unidos. Com isso, muitos moradores assustados ligaram para a emergência informando sobre uma “enorme nuvem prateada” no céu. Eles afirmava que ela poderia ser a causadora do apagão ou até mesmo fazer parte de uma invasão alienígena. A nuvem nada mais era do que a Via Láctea, que eles estavam vendo pela primeira vez.

     

    Cerca de 2/3 dos estado-unidenses e metade dos europeus não conseguem visualizar nossa galáxia à noite devido à poluição luminosa. Essa poluição começou há milhares de anos de forma bem simples, com o fogo e as velas, mas claro que tais impactos eram muito baixos. Porém, com a invenção da eletricidade, no século XIX, e com ela o surgimento das primeiras iluminações públicas no fim do século XIX, nosso mundo foi tomado pela luminosidade da luz artificial.

     

    A poluição luminosa é o excesso de luz artificial emitida pelos grandes centros urbanos. Pode ser emitida em diversas formas, como por exemplo, por luzes externas, anúncios publicitários e, principalmente, pela iluminação pública. O impacto da poluição luminosa começou a ser mais conhecido com a pressão de astrônomos amadores dos Estados Unidos na década de 1980. Eles reclamavam da perda de visibilidade quando tentavam observar estrelas. Além disso, a poluição luminosa tem outras consequências, afetando nossa saúde e os ecossistemas, tornando-se um grande prejuízo para todos os cidadãos. A poluição luminosa pode ser dividida nos seguintes tipos:

     

    • Brilho do céu (sky glow)

     

    É o brilho do céu à noite ou em partes dele. Sua causa mais comum são luzes artificiais que emitem poluição luminosa acumulada e que podem ser vistas a quilômetros de distância do espaço. De acordo com a International Dark Sky Association, de Los Angeles, o brilho da iluminação pode ser visto a mais de 300 km de distância. Esse fenômeno é pior em áreas com alta concentração de poluição atmosférica. O uso de lâmpadas de sódio mal direcionadas causam um efeito de cor alaranjada. Se o brilho tender para o branco, é devido ao uso de lâmpadas de mercúrio, que são mais nocivas ao meio ambiente.

     

    • Luz intrusa (light trespass)

     

    Ocorre quando a iluminação de um ambiente invade o outro. Por exemplo, quando a luz da iluminação pública da rua invade seu quarto e não permite que o mesmo fique totalmente escuro durante a noite.

     

    • Ofuscamento (glare)

     

    Ocorre quando a luz excessiva não é protegida propriamente e brilha de forma horizontal, diminuindo a visibilidade, causando desconforto e até cegueira momentânea. Um exemplo disso ocorre quando um carro trafega com faróis altos na direção contrária à nossa.

     

    • Desordem (light clutter)

     

    Grupos excessivos de luzes que podem gerar confusão, distração de obstáculos e causam acidentes. Desordem pode ser observada em estradas em que as luzes são mal posicionadas e acabam por distrair ou atrapalhar os motoristas, contribuindo para a ocorrência de acidentes. A cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, possui excessivas luzes coloridas, sendo um exemplo de desordem de luz.

     

    • Excesso de iluminação (over illumination)

     

    É o uso excessivo da luz gerando desperdício de energia. Nos Estados Unidos, excesso de iluminação é responsável por um desperdício aproximado de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Como pode ser observado na imagem, a luz utilizada para iluminar o prédio não era necessária.

     

    Problemas para humanos

     

    Fora os impactos citados, nós humanos, também sofremos com essa exposição intensa à luz, afinal, nós também somos animais. O excesso de luz exterior invade nossas casas e perturba nosso sono. Além disso, a iluminação atrai alguns insetos que podem ser portadores de doenças.

    A luz noturna provoca mudanças no sono e confunde o ritmo circadiano, que é o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de praticamente todos os seres vivos. Esse ritmo influencia os nossos padrões de sono, temperatura e produção de hormônios. Essa confusão tem sido relacionada com distúrbios de sono, depressão, obesidade e transtornos de humor.

    Estudos recentes também sugerem que a exposição prolongada à luz artificial pode aumentar o risco de desenvolver certos tipos de câncer, como o de mama e outros relacionados aos hormônios. Pesquisas indicaram que mulheres que trabalham durante a noite têm maiores chances de desenvolver câncer de mama e, em 2007, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) considerou trabalho noturno como um “provável cancerígeno humano” .

    A visualização da nossa galáxia a olho nu também é afetada e, hoje em dia, quem nasceu e viveu nas grandes cidades não tem contato com o universo. O excesso de iluminação desperdiçada em direção ao céu ofusca nossa visão e faz com que a imagem perca qualidade, assim , apenas as estrelas mais cintilantes são visíveis. Veja na figura abaixo a constelação de Orion vista em áreas urbanas (direita) e em áreas livres de poluição luminosa (esquerda).

    Astrônomos amadores sofrem muito com esse impacto, sendo necessário os mesmos se dirigirem para zonas mais afastadas das cidades, em locais pouco iluminados e mais altos. Essa iluminação também interfere nos equipamentos dos astrônomos, como o espectrográfico, que são instrumentos que medem como a luz emitida por um objeto se dispersa em cores diferentes. Com essa medição é possível definir a massa, composição química, temperatura e luminosidade de um corpo no espaço, porém, a poluição luminosa interfere nas medições.
    Adicionalmente, alguns elementos utilizados nas lâmpadas para se manterem acesas são altamente poluentes e podem ocasionar grandes impactos ambientais quando descartadas. Entre esses elementos estão o mercúrio, chumbo, cádmio, estrôncio e bário.

    Isso sem contar que a poluição luminosa é um grande desperdício de energia e dinheiro. Aproximadamente um quarto de todo o gasto de energia é direcionado para geração de luz. Um pesquisa realizada na Áustria em 2008 descobriu que cerca de 30-50% da contribuição do governo para o efeito estufa se devia à iluminação pública, da qual aproximadamente 30% é desperdiçada iluminando o céu. As consequências desse desperdício são inúmeras, pois grande parte dessa energia consumida é originada de fontes poluidoras como termoelétricas, que consomem recursos naturais e liberam poluentes como o dióxido de carbono para atmosfera, além de ser um peso no orçamento.

     

     

    Soluções

    Felizmente, comparada a outros tipos de poluição, a poluição luminosa é uma das mais facilmente remediadas. A iluminação correta é aquela em que a luz ilumina a área que interessa iluminar. Se cada candeeiro ou projetor refletir para baixo a luz quer se iria para os lados e para cima, melhora-se a iluminação da área com uma menor potência e consumo de energia.  A ilustração abaixo exemplifica essa medida.

    A substituição por lâmpadas mais eficientes diminui o consumo de energia e ilumina mais. Para o sistema de iluminação pública, uma das lâmpadas mais eficientes são as de vapor de sódio de alta e baixa pressão, que possuem um tempo de vida longo, baixo consumo energético e ótima eficiência se comparadas aos outros modelos. As lâmpadas LED têm sido apontadas como outra opção por consumirem pouca energia e serem direcionadas, porém, essas lâmpadas emitem uma luz mais forte que as lâmpadas comuns. A instalação de sensores de presença em alguns locais também diminui o gasto energético, iluminando a área apenas quando ela necessita ser iluminada. Algumas medidas já vêm sendo tomadas. Em Paris, por exemplo, da 1h às 7h da manhã, luzes de lojas, escritórios e fachadas da cidade das luzes devem estar apagadas, excetuando áreas turísticas como a Torre Eiffel que pode ficar acessa. Flagstaff, no Arizona (EUA), é a primeira cidade grande moderna com céu escuro, em que medidas foram amplamente tomadas para diminuir a poluição luminosa, como o direcionamento das luzes e sua proteção para que a luz não se disperse e a limitação da iluminação emitida por acre. Ainda assim, a poluição luminosa aumenta em 20% a cada ano, na maioria das vezes devido à associação entre segurança e luz, porém, a alta luminosidade pode causar o ofuscamento impedindo a percepção de um criminoso. No Brasil, existe a necessidade de uma legislação nacional, fixando parâmetros a fim de evitar e corrigir a poluição luminosa. Além de medidas normativas, a conscientização da população é fundamental, em que cada individuo pode colaborar para reduzi-la. O Laboratório Nacional de Astrofísica preparou uma apostila que alerta e fornece informações sobre a poluição luminosa e as formas de combatê-la. Eles apresentam uma “regra de ouro” que todos nós deveríamos seguir: “iluminar apenas o que for preciso e apenas durante o tempo que for necessário”. Ações como as citadas podem economizar energia, dinheiro e diminuir os danos para o meio ambiente. E não apenas esses benefícios. Diminuir essa poluição pode nos devolver a capacidade de olhar além de nós mesmos e vislumbrarmos a imensidão do espaço.

     

  • Fonte:

    Ecycle

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